bisposOs bispos do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que engloba o estado de São Paulo, divulgaram uma nota sobre a ideologia de gênero na educação. No texto, assinado pelo cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 CNBB, ressaltam que “as consequências da introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas contradiz frontalmente a configuração antropológica de família, transmitida há milênios em todas as culturas”.

Na quinta-feira (11), ao término da 78ª Assembleia Episcopal Regional, ocorrida em Aparecida (SP), os bispos divulgaram a mensagem que aborda a questão dos Planos Municipais de Educação (PME) a serem aprovados pelos municípios brasileiros até o dia 25 de junho. Nela, atestam o “apreço ao empenho dos Conselhos Municipais de Educação” na aprovação deste plano que norteará a prática educativa nos próximos dez anos. Mas, alertam para a possibilidade de inserção da ideologia de gênero no documento. A nota emitida foi encaminhada ao Executivo e Legislativo Municipal pelo arcebispo metropolitano de Sorocaba, Dom Eduardo Benes de Sales. “Na igreja católica não há discussão sobre esse assunto; há um consenso onde não se pode ferir o ideal de família de matrimônio como está na Constituição e isso não aceitamos”, comentou. “Quanto a acolher e acabar com a intolerância estamos de acordo que a educação está de coração aberto para respeitar a todos”, comentou o arcebismo.

Atentando sobre as ameaças aos valores familiares que acarretariam da aprovação da ideologia de gênero, os bispos dizem esperar dos “governantes do Legislativo e Executivo uma tomada de posição que garanta para as novas gerações uma escola que promova a família, tal como a entendem a Constituição Federal (artigo 226) e a tradição cristã, que moldou a cultura brasileira”. Por fim, também pedem a inclusão no PME do “ensino religioso, em sintonia com a confissão religiosa da família, que tem filhos na escola”. Na última audiência pública realizada na Câmara Municipal, no dia 8, o pedido por ensino religioso tumultuou o debate. Religiosos e movimento LGBT manifestaram-se sobre pontos polêmicos do Plano Municipal de Educação.

Preconceito

Segundo Denis Oliveira, representante de movimentos LGBT em Sorocaba, existe uma preocupação em relação ao posicionamento dos religiosos, podendo o texto ser extraído do PME. “Com a pressão de religiosos, arcebispo e igrejas evangélicas que tem três pastores vereadores, a identidade de gênero e as questões de diversidade sexual serão retiradas do texto debatido democraticamente”, pontuou. Segundo Denis, o preconceito ainda existe e novos debates devem ser fomentados gerando maior preparo para o poder público.

Uma nota publicada na página do Fórum LGBT – Sorocaba, menciona que a ideologia de gênero nada mais é do que leitura mal feita de alguns autores da atualidade. “As ideias equivocadas a respeito da homossexualidade, construídas com base em uma cultura patriarcal e misógina, por discursos religiosos e científicos, reiteradas cotidianamente em todas as esferas da sociedade, produzem efeitos negativos para as chamadas minorias sexuais”, mencionam.

Discussão

Segundo o secretário interino da Educação, Flaviano Agostinho de Lima, o PME deve ganhar a forma de projeto de lei e será encaminhado à Câmara, até quarta-feira, dia 17. Os vereadores disporão, assim, de praticamente pouco mais de uma semana, até o dia 25, para discutir e votar a matéria. “Temos uma questão bastante séria, porque muitas das metas em relação as estratégias do plano – que são 320 – dependem de um posicionamento da própria União, dos governos Federal e Estadual e o próprio Ministério da Educação (MEC) que preconizava que o nosso plano deveria estar de acordo com o Estadual e o Estadual não está pronto, mas vou trabalhar com essa referência”, comentou. Sobre a metas que contemplam a ideologia de gênero, o secretário explica que são treze estratégias a serem analisadas.

No dia 10, a Câmara Municipal de São Paulo retirou do projeto que trata do Plano Municipal de Educação todas as referências a questões de gênero. “Acredito que há essa tendência pela falta de condição de discussão da sociedade; é bastante sério isso em todos os aspectos porque podemos estar errando em todos os sentidos. Nesse momento você fazer uma determinada opção é muito sério – de algo que é muito novo – e que a sociedade têm o direito e deve se aprofundar”, comentou. O secretário enfatizou a prudência nesse momento. “Eu recebi essa nota da CNBB, assinada pelo cardeal e é uma nota bastante densa nas suas razões; a sociedade tem que ter tempo para fazer um amadurecimento”, comentou. O presidente da Câmara, o vereador Cláudio do Sorocaba I (PR) também recebeu a carta da CNBB e disse que só é possível ter um posicionamento assim que o projeto seja apresentado. “Quando chegar acredito que ainda dá para nós fazermos mais uma audiência pública”, comentou.

Segundo o secretário, o assunto ainda deve gerar debates. “Acredito que na Câmara esses debates serão muito acalorados, a sociedade precisa receber todas as lógicas científicas que se tem pelo mundo, trabalhos, estudos para amadurecer”, ressalta. “O que eu temo é que esses temas que são importantes se sobreponham a importância do Plano de Educação como um todo, porque temos que educar para a não discriminação”, ressalta. Sobre o ensino religioso, Flaviano admitiu estudos. “Não está incluído no texto, mas estamos fazendo esse refinamento técnico e vamos analisar a viabilidade; o prefeito se mostra favorável ao ensino religioso; temos que ver se há possibilidade mas isso seria mais para o futuro”, disse.

CNBB critica uso da imagens religiosas na Parada Gay em São Paulo

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em São Paulo também divulgou nota na quinta-feira (11) com posicionamento contrário ao uso de símbolos religiosos durante a 19ª Parada do Orgulho LGBT, realizada no domingo, dia 7. A nota, divulgada no site da conferência e retransmitida pelo arcebispo metropolitano de Sorocaba, Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, diz que foram “claras manifestações de desrespeito à consciência religiosa de nosso povo e ao símbolo da fé cristã, Jesus crucificado”. Contra a homofobia, a modelo transexual Viviany Beleboni desfilou seminua em uma cruz.

Uma placa acima de sua cabeça carregava a frase “basta de homofobia com LGBT”, o que gerou reação de religiosos. A nota não cita diretamente o nome da transexual. O texto também aponta que a “fé cristã e católica, e outras expressões de fé encontram defesa e guarida na Constituição Federal”. “A parada gay é livre, as pessaos tem toda a liberdade de expressão mas que não usem símbolo cristãos, isso até desqualifica o próprio movimento”, comentou o arcebispo.

Em Sorocaba

A 10ª Parada LGBT de Sorocaba, acontece no dia 23 de agosto, com concentração na Praça do Fórum Velho, rumo ao Campolim. O tema deste ano é “Orgulho de que?”. O encontro na cidade ocorre depois da polêmica “crucificação” ocorrida na capital.

Um dos organizadores da Parada em Sorocaba, Denis Oliveira, o Dennys Sbizera, defende a liberdade religiosa, garantida pelo Estado laico que tem como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos. “Nós fomos totalmente a favor do manifesto e da forma que foi feito, não entendemos de forma de insulto e sim de protesto”, comentou.

Segundo a página oficial do Fórum LGBT em Sorocaba, são registrados, em média, 350 assassinatos ao ano no Brasil motivados pela homofobia. “A travesti pregada na cruz é símbolo de toda a angústia e dor que eu e todas as lésbicas, gays, bi e transexuais são forçados a engolir diariamente. A foto é muito mais uma expressão artística do que um ataque à religião de quem quer que seja”, diz trecho do texto.