
Às 2h15 do dia 16 de setembro de 2007, em Boa Vista, a vida do casal Adílio e Gláucia Bezerra mudou completamente. Segundo conta Adílio, a esposa acordou se sentindo mal e algumas horas mais tarde sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que a deixou em estado vegetativo. Desde então, o marido se dedicou completamente à esposa e nesta sexta-feira (12), Dia dos Namorados, ele completa 2.826 dias cuidando de Gláucia. “Nunca pensei em desistir, porque eu a amo. Somos um só”, diz.
A história do radialista Adílio e da professora “Linda” Gláucia, como ele prefere chamá-la, começou há 29 anos, na metade de 1986. À época, eles ainda moravam em Campina Grande, na Paraíba, e não se conheciam.
“Lembro exatamente das quatro primeiras vezes que a vi: em uma agência bancária, na loja onde ela trabalhava, em uma rua quando eu estava andando de ônibus e no dia do jogo Brasil e Polônia, em 16 de junho de 1986. Nessa época, eu achava que não teria nenhuma chance com a Gláucia. Ela era muito linda, uma gata”, lembra Adílio.
No entanto, uma surpresa acabou unindo os dois: Gláucia começou a trabalhar na mesma rádio que Adílio e os dois ficaram amigos.
Na época, Gláucia já tinha uma filha e revelou que também estava grávida. “Quando eu soube que ela estava esperando um bebê, prometi que iria criá-lo com ela. Foi o que aconteceu, e nos anos seguintes tivemos mais dois filhos e nos casamos oficialmente em 1995.
A guinada na vida do casal aconteceu mesmo em 2007, quando a esposa sofreu o AVC isquêmico de ponte. O problema afetou a circulação sanguínea do cérebro, perda de células e, consequentemente, da consciência. Na época, os médicos disseram que Gláucia tinha entre oito e quatro horas de vida”, conta.
“Meu mundo estava ruindo, mas um episódio me fez ver tudo de forma diferente: um vizinho soube do que tinha acontecido, e me disse para ter fé, pois tudo só dependia de Deus. Acreditei nisso e nunca mais perdi a confiança”, recordou.
Depois de internada, Gláucia ficou 5 anos e meio no hospital. Nesse período, alguns dias foram passados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde Adílio não poderia ficar durante as noites. Para compensar, ele ligava para o hospital antes de dormir e pedia que os enfermeiros dessem um recado à esposa: “Diga a ela que eu a amo”.
No período de internação, Adílio dividia o tempo entre o hospital e o trabalho. “Nossos filhos faziam o mesmo e sempre acreditávamos que um dia ela iria sair de lá. Comecei a me preparar para isso e no dia 21 de dezembro deixamos o hospital rumo à nossa casa”, descreveu.
Morando novamente na casa onde viviam antes do AVC, o casal teve que se adaptar. Um leito hospitalar foi levado para dentro do quarto e as penteadeiras foram ocupadas por remédios, aparelhos e a alimentação especial que é dada a Gláucia.
Ela é e vai continuar sendo a mulher da minha vida”
Adílio Bezerra, radialista
“Enfrento provações diárias, mas acredito que tudo o que faço pela Gláucia é fichinha. Sei que se fosse o contrário, ela com certeza cuidaria de mim muito melhor do que eu cuido dela”, diz Adílio.
Segundo o neurologista Ruy Guilherme, o quadro de estado vegetativo consiste na manutenção única do sistema nervoso autônomo, que inclui a respiração e os batimentos cardíacos, mas exclui a consciência. Desta forma, o paciente diagnosticado com o problema tem apenas as funções vitais preservadas.
Por isso ele explica que, conforme a literatura médica, a possibilidade de um paciente em estado vegetativo voltar à consciência é mínima. “Existem casos esporádicos de pessoas que saem desse estado. No entanto, isso é extremamente raro”, disse.