Decisão foi tomada ontem, após divulgação de números que revelam aumento da violência no Estado

Decisão foi tomada ontem, após divulgação de números que revelam aumento da violência no Estado

HERCULANO BARRETO FILHO

Rio – A sensação de insegurança causada pelos sucessivos ataques a UPPs e pelo aumento nos índices de criminalidade entre janeiro e março deste ano, divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), motivou a antecipação de uma medida de policiamento prevista para a Copa do Mundo. A partir da próxima segunda-feira, cerca de 2 mil homens reforçarão o patrulhamento nas ruas do Rio.

O reforço de PMs será feito através do Regime Adicional de Serviço (RAS) da Polícia Militar, que prevê remuneração extra a servidores para trabalhar nas folgas. Entretanto, o caráter obrigatório do serviço desagrada a um grupo de policiais, que estão se mobilizando através de uma página no Facebook para fazer uma passeata em protesto.

“Ninguém está querendo fazer parte desse trabalho obrigatório. A nossa escala de serviço já está apertada. E o governo ainda está querendo impor que a gente trabalhe nas nossas folgas. Isso é desumano”, reclamou um policial militar.

O secretário de Segurança esteve ontem na Maré, onde circulou com o governador e militares do Exército

Foto:  João Laet / Agência O Dia

A medida foi anunciada ontem à tarde pelo governador Luiz Fernando Pezão e pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em entrevista dada na Praça dos 18, na Baixa do Sapateiro, no Complexo da Maré. O local fica próximo à divisa entre duas favelas dominadas por facções rivais, que disputam o controle do tráfico de drogas na região.

“Estamos tomando a decisão de colocar cada vez mais policiais nas ruas. Nunca nos colocamos como vencedores dessa guerra. O importante é a paz. Se não tiver a paz, não entra o professor, não entra o médico. Vamos fazer o dever de casa. A segurança é a política-mãe”, disse o governador. Ele disse ter pedido ao prefeito Eduardo Paes que disponibilize guardas municipais para reforçar o efetivo nas ruas.

Antes de anunciarem o reforço policial, Pezão e Beltrame se reuniram com representantes da Força de Pacificação do Exército para discutir sobre os resultados de dois meses de ocupação na Maré. Na conversa, os militares fizeram um balanço das apreensões de armas, drogas e prisões.
Pezão informou, ainda, que irá inaugurar uma escola de Ensino Médio com um centro tecnológico na comunidade, com aulas no período da manhã.

Beltrame volta a pedir reforma penal

A prisão do traficante Eduardo Herculano da Silva, o Avião, capturado quarta-feira na Favela Nova Holanda, foi usada para exemplificar um problema que preocupa o governo estadual: a evasão de presos do regime semiaberto.

Apontado como o principal fornecedor de cocaína do Comando Vermelho, Avião estava preso até 2008. Ao ser beneficiado pelo regime, deixou a cadeia e não voltou mais. “Vamos continuar efetuando prisões. Mas vou aproveitar mais uma vez para fazer um apelo: precisamos de uma reforma penal para evitar que situações assim se repitam”, argumentou o secretário José Mariano Beltrame.

Ele também falou sobre a necessidade de manter encarcerados em presídios federais criminosos de alta periculosidade. “Hoje mesmo, uma juíza de Rondônia autorizou o retorno de Jerominho”, disse, se referindo ao miliciano Jerônimo Guimarães Filho.

Urbanização para reduzir atentados

Beltrame pediu a urbanização de favelas pacificadas, onde os ataques a policiais militares se intensificaram nos últimos meses. “São policiais que estão jogados para patrulhar em becos e vielas, onde é difícil patrulhar. Acabam virando alvo fácil”, analisou o secretário.

Segundo ele, o auxílio dado em áreas mais perigosas por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite da Polícia Militar, é apontado como uma solução emergencial. “Patrulhar em vielas não é o ideal para policial nenhum. Em lugares normais, a solução é urbanizar”, argumentou Beltrame.

A ideia também vale para a Maré, ainda que a área esteja sem a presença de traficantes armados e apenas com integrantes do terceiro escalão, segundo o Exército.

Ele acredita que os ataques em áreas pacificadas estão ligados a uma tentativa de sabotagem à pacificação, orquestrada por traficantes.

REFLEXÕES SOBRE A PACIFICAÇÃO

‘Onde está a invasão social?’, Thiago Firmino, do Santa Marta

No Santa Marta, primeira favela a receber uma UPP, em 2008, o turismo se transformou numa boa fonte de renda para os moradores. Foi o que aconteceu com Thiago Firmino, 33, midiativista e um dos guias da comunidade. Confira o que ele pensa sobre a pacificação.

1. O que mudou com a pacificação?

A questão de segurança, do fim dos conflitos. Este é o ponto positivo, pois já não há mais a guerra que impedia nosso direito de ir e vir.

2. O que deve mudar?

Tudo. Hoje, o programa de pacificação só chegou nos morros com a polícia. Cadê o que o Beltrame falou, a invasão social? Faltam ainda todas as outras ações do governo, como saneamento básico. Alguns projetos chegaram aqui de forma camuflada, muito timidamente. Este é o principal problema.

3. Como é a relação entre morador e polícia?

Antes era tensa, porque o Santa Marta foi o primeiro morro e havia muita tensão no ar. A gente desconfiava e tinha dúvidas. Hoje temos abertura para questionar, brigar, falar o que achamos para os PMs. Há bem mais espaço e o morador negocia, tem voz ativa. Já fora daqui há muita arbitrariedade e desrespeito com moradores. Há visão de conflito e não de aproximação. Parece a antiga polícia de rua, aquela de confronto, que não quer conversa

4. A crise atual compromete o processo?

Sim, pois os moradores já estão de saco cheio, cansados da mesma coisa que a mídia fala, de que tá tudo uma maravilha. Se a polícia não passar a ouvir os moradores, tratá-los com respeito, a tendência é explodir a panela de pressão