Em clima de revolta, familiares e amigos da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 31 anos, espancada e morta após ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças que praticava rituais de magia negra, acompanharam o enterro no Cemitério de Morrinhos, no Guarujá, nesta terça-feira (6), às 10h. Após o enterro, uma passeata saiu em direção ao Centro. Ela deixou duas filhas, uma de 13 e outra de um ano.

Sob gritos de justiça e forte comoção, cerca de 200 pessoas acompanharam o enterro de Fabiane. O cemitério Jardim da Paz, onde ela foi enterrada, fica entre um lixão e um depósito de contêineres. Seu corpo foi depositado em uma gaveta nos fundos do cemitério, em lugar cercado de entulhos e insetos. Seu nome foi escrito com pregos no cimento fresco na gaveta por coveiros.

De acordo com amigos e familiares, Fabiane voltada da casa de uma amiga, onde foi foi buscar sua Bíblia. Ela era frequentadora da Igreja São João Batista, também no Guarujá. Na volta, ela parou em um supermercado para depois prosseguir viagem, quando então foi atacada. A Bíblia, que tinha também uma foto das filhas dela foi rasgada pelos assassinos.

Investigação

Segundo o advogado da família da vítima, Airton Sinto, novos vídeos com as imagens da agressão foram entregues ao delegado responsável pelas investigações Luiz Ricardo Lara.

“Levantamos alguns nomes de supostos agressores, que estão sendo confrontados com as imagens. A investigação segue em sigilo, no intuito de não alertar possíveis responsáveis e proporcionar tempo para fuga”, informou Sinto.

O administrador da página do Facebook ‘Guarujá Alerta’, responsável por postar o retrato falado de uma moça identificada como sequestradora crianças para prática de magia negra, será ouvido nesta terça-feira (6) pela Polícia Civil.

O advogado acredita que o dono do perfil noticioso alarmou toda a comunidade do Morrinhos com a falsa existência de uma sequestradora de crianças. As postagens, segundo ele, ocasionaram a falsa identificação da população agressora, ligando Fabiane ao retrato falado postado na página apócrifa.

“Em razão de o responsável pela página haver retirado todas as postagens com as informações e fotos falsas e incitadoras de medo e revolta de uma população de quase 20 mil pessoas, estudamos a ideia de solicitar a prisão temporária do administrador, com base na destruição de provas e intenção de prejudicar a investigação policial”.

O advogado ainda argumenta que o momento é de reflexão, já que não existe legislação específica para atos como o praticado pelo administrador da referida página. “A responsabilização penal do elemento passará pela aplicabilidade do artigo 29 do Código Penal, de onde se extrai a responsabilização daquele que de alguma forma contribuiu para o evento criminoso, na medida de sua culpabilidade. A nosso ver, o administrador da página deve responder pelo evento final, ou seja, o homicídio de Fabiane.

O delegado do 1º DP de Vicente de Carvalho, Luiz Ricardo Lara, que está à frente do caso, afirmou que ainda é prematuro apontar a responsabilidade do administrador da página Guarujá Alerta. “Caso, durante a instrução do inquérito policial, seja vislumbrado que, de alguma forma, ele colaborou com o crime, na medida em que propalou esses boatos, enfim, que praticou uma infração penal, ele será responsabilizado”, disse.

Em uma postagem feita no fim da tarde de segunda-feira (5), o dono da página afirma que está colaborando com as investigações e que não irá se pronunciar a respeito do caso para não atrapalhar o trabalho da polícia.

Muito abalado, o porteiro Jaílson Alves das Neves, viúvo de Fabiane, pede que os culpados coloquem a mão na consciência. “Que todos eles paguem pelo crime que cometeram”.

O caso
Fabiane Maria de Jesus, de 31 anos, teria sido confundida por populares com uma mulher que estaria sequestrando crianças para atos de magia negra. No último sábado, ela foi espancada por dezenas de moradores do bairro Morrinhos 1, em Guarujá. A violência foi filmada e divulgada na internet.

As imagens mostram a dona de casa sendo capturada, amarrada, arrastada pela rua, espancada com blocos de concreto e pedaços de madeira na cabeça. Por último, é jogada numa vala.

Chamada, a Polícia Militar conseguiu resgatar a vítima com vida. Ela ficou internada com traumatismo craniano e em coma induzido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santo Amaro, em Guarujá, mas morreu às 6h30 de segunda-feira.