Uma agência carioca lançou um aplicativo exclusivo para homens em que um amigo pode alertar outro sobre possíveis escapadas da parceira. Na loja do Google Play, mulheres pedem um app semelhante para elas

Tá sentido a cabeça pesada, amigo? (Isso mesmo, “amigo”. Por enquanto, cara leitora, a conversa é só com a ala masculina. Calma aí, que a gente já troca uma ideia).  Pode ser a ressaca da fossa de ontem batendo forte, mas também pode ser aquilo que você não quer nem pensar, mas, lá no fundo, não sai da sua cabeça: um belo  par de chifres.

Está sentindo que a dona (insira o nome) anda dando preferência a outra freguesia? Pois chega de fazer papel de besta. Agora, ninguém te engana – e, se engana, vai ser por pouco tempo, já que um amigo de verdade vai te dar a dica. Pelo menos, essa é a proposta do aplicativo FaceBoi, lançado no mês passado por uma agência carioca. 

Gratuito, o app,  por enquanto, só está disponível para usuários do sistema operacional Android. Ele também pode ser acessado pelo Facebook (ou seja: donos de iPhone, não precisa ficar no #mimimi. A menos que você descubra que tem motivos, claro).  Desde o seu lançamento, cerca de 12 mil pessoas já baixaram o software, segundo os criadores – até sexta-feira eram 3 mil.

Na descrição do app, eles dão a dica do que você vai encontrar: “Longe da gente fazer inferno na vida dos outros, mas, será que aquele ‘choppinho com as amigas’ terminou numa noite de queijos e vinhos entre a sua gata e aquele carinha novo do trabalho?”.  É, o seguro morreu de velho, já dizia o seu avô…

Bolinha
No FaceBoi, a mulher não tem vez. O app é exclusivo para os Bolinhas – seja aquele que está com medo do encanador sexy ou apenas aquele que quer avisar o amigo que tem fura-olho no pedaço. O login é feito através da conta do Facebook e o aplicativo garante que ninguém vai ficar sabendo que você está tremendo nas bases.

“A mulher não precisa disso. Homem é bobo, mais fácil de enganar. Se um amigo fala que viu a mulher do cara na balada com outro, ele não vai acreditar. Se uma amiga começa a falar para outra, esta já resolve a situação ali mesmo”, explica um dos responsáveis pelo FaceBoi, Rafael Costa, sócio da agência A Figueira, que desenvolveu o app.

Funciona assim: ao acessar o app, o usuário vai se deparar com uma tela com duas perguntas: “Você está em dúvida se foi traído?” e “Vai avisar um amigo do chifre?”. Se escolher a primeira, o aplicativo vai buscar por alertas. Mas o FaceBoi não vai contar likes ou comentários da sua namorada.

“O que a gente faz é ver se algum amigo mandou alerta. Qualquer homem do seu Facebook pode. Se ninguém tiver alertado, não tem pista nenhuma”. Daí, voltamos à segunda pergunta lá do início – e você pode fazer a sua boa ação do dia dando um choque de realidade no seu camarada.

Hashtags
Se você optar por acender um alerta em alguém, vai aparecer outra tela, listando todos os homens adicionados no Facebook. Basta digitar um nome e fechar com chave de ouro: escolha uma das hashtags, que vão te contar “O que dizem por aí…”.

São 14 hashtags que não podem ser editadas, e já vêm com um recado que a complementa. Se a namorada de seu amigo só fica grudada com um cara que ela jura que gosta mais de homem do que ela, por exemplo, a hashtag para você alertar seu bróder está lá: “#AmigoGay: não conhece uma música da Madonna, toma cerveja no gargalo e sabe a escalação do Mengão de 81…”.

E, em tempos de Copa do Mundo, não podia faltar o “#CartãoVermelho: Esquece o futebol, amigo! Enquanto  você pensa que é o Messi, tem atacante, zagueiro e gandula balançando o capim no fundo do gol – dela!”, alerta o FaceBoi. De acordo com o próprio app, é uma forma de dizer o que precisa ser dito sem magoar.

Repercussão
Apesar de ser novo, o FaceBoi já salvou alguns usuários. Na Google Play, um internauta agradecia a ajuda. “Com esse app, peguei a gata no pulo e me safei de um belo chapéu de touro. Valeu FaceBoi!”.

Mas tem gente levando na brincadeira. O empresário Ed Machado, 31, instalou o app na semana passada  e foi logo passando um trote para o cunhado. “Ele trabalha muito, daí coloquei a hashtag ‘#VCSaiEleEntra’. Ele vai tomar um susto. Ele ainda não falou comigo, por isso não contei que fui eu”. É, não dá para saber ainda se ele trouxe problemas ao casamento da irmã – mas Ed não deixou de checar como andava o seu próprio. Por sorte, não tinha nada. “Se eu recebesse, ia tomar um susto, mas ia levar na brincadeira. Agora, se em uns dois dias eu recebesse umas cinco advertências, ia ficar mais atento”.

Por mais que haja muito homem alertando amigos, os marmanjos estão morrendo de medo. Segundo Rafael Costa, a maior parte dos acessos vêm dos inseguros que querem receber alertas. “A gente teve 15 mil acessos na página de verificar se a pessoa está sendo traída, contra uns 8 mil na página de alertar”, diz ele.

Mulherada
Mas não são só os homens: tem muita mulher que adoraria ter um app semelhante. “É uma concorrência desleal. Sou muito ciumenta e com certeza instalaria”, afirma a estudante de Direito Caroline Galvão, 19. Não é só ela: na GooglePlay, a mulherada anda até implorando.

“Alguém faça por favor um app concorrente para denunciarmos os homens. Quem inventou esse acha que só mulher trai”, postou uma usuária. “A proposta é boa. Mas nós, mulheres, não podemos usar! Quanto machismo!”, reclamou outra. O máximo que elas podem fazer é baixar o app. Depois, são recebidas por um “Tsc, tsc! Tá devendo, é? Esse aplicativo foi feito apenas para nós, homens”.

E, claro, também choveram críticas sobre  machismo. “Mas estamos fazendo com humor. As pessoas não deviam levar a vida tão a sério”, diz Rafael Costa. Sério ou não, vem mais por aí. Não se sabe quando, mas o negócio vai dar direito até a flagras. “Estamos planejando o envio de fotos e mensagens. Daí, se o cara vir e não acreditar, problema dele”. E seu, cara leitora.

Aplicativo não deve ser levado muito  a sério, alerta especialista
Levar um aplicativo como o FaceBoi muito a sério pode ser um problema. “Se você vai lidar com o seu relacionamento a partir de um aplicativo como esse, tudo está muito errado. É uma desculpa para terminar ou para encher o saco da namorada”, diz o psicólogo Pedro Del Picchia, mestre em Comunicação e Semiótica, especialista em interações em redes sociais.

De acordo com ele, isso é um indício de que o casal não vai bem – e que o homem pode estar com medo de enfrentar os problemas. “As pessoas têm necessidade de jogar para fora as responsabilidade de lidar com os próprios sentimentos e com o que estão pensando”, afirma ele. Isso porque os relacionamentos ainda estão se adaptando às novas mídias e às redes sociais, segundo Del Picchia. “A realidade dos relacionamentos mudou, mas esse tipo de relação entre homem  e mulher é muito antigo”.

Para ele, isso também ajuda a entender a febre de alguns aplicativos sobre relacionamentos, que explodiram no ano passado – a exemplo do Tinder, utilizado para paquera, e do polêmico Lulu, exclusivo para mulheres avaliarem secretamente os homens. “A maior parte desses aplicativos tem o momento que estoura e cai na boca do povo. Todo mundo baixa pela curiosidade”, completa a sócia da agência Vert Inteligência Digital, Carolina Zaine.

Ainda assim, ela diz que é preciso ter cuidado com o download desse tipo de software. “Antes de autorizar o uso de qualquer aplicativo no celular, deve-se verificar as informações a que terá acesso. O FaceBoi parece ser um aplicativo bastante invasivo”, alerta.

Rastreador de Namorado
Apesar do FaceBoi ser exclusivo para os homens, as mulheres não estão sozinhas. No ano passado, um grupo de brasileiros lançou o aplicativo Rastreador de Namorado – voltado para mulheres, apesar de não ser somente para elas. E a ideia é bem mais polêmica do que o concorrente lançado no mês passado.

Exclusivo para o sistema Android, o app promete fazer a festa das ciumentas de plantão. Dá para descobrir onde o objeto de paixão está e ainda é possível receber qualquer mensagem SMS que o dito cujo receber. A pessoa ainda tem acesso a todo o histórico de ligações do companheiro e, de alguma forma, basta um comando para ouvir tudo que se passa ao redor do namorado – o celular dele liga “sozinho” para você.

A usuária ainda pode ser notificada toda vez que o celular do cara for desligado. Não precisa de internet e, para completar, o alvo não tem como fugir disso – nem se colocar o celular no modo avião, que desativa todas as conexões sem fio. Só que, para tudo isso funcionar, a parte desconfiada deve baixar o aplicativo no smartphone do parceiro (e torcer para que ele não perceba).

Depois, basta informar o seu próprio número de telefone nas configurações para que as mensagens com as informações sejam enviadas. Existe uma versão gratuita e uma versão paga: quem quiser ficar em segredo deve desembolsar R$ 4,99 por mês pela aplicação.