Pró-impeachment, líder da banda Os Reaças iguala partidos de esquerda ao nazismo
Banda Os Reaças dá novo significado para palavra reacionário ao associar termo ao inconformismo “contra roubalheira”
No dicionário Michaelis, a palavra reacionário significa: “pertencente ou relativo ao partido da reação ou ao seu sistema; que se opõe às ideias políticas de liberdade individual e coletiva, retrógrado; e sectário da reação política ou social; homem antiliberal”. Pois foi justamente, a abreviação deste termo o escolhido para batizar a banda “Os Reaças”, autora da música Impeachment, que pretende se tornar um hino em favor da saída de Dilma Rousseff (PT) da Presidência.
Um dos líderes da banda, o músico e designer curitibano Eder Borges, de 31 anos, diz acreditar que esse seja apenas um primeiro passo na caminhada que pretende colocar todos “os partidos de extrema esquerda na ilegalidade, equiparando-os ao nazismo”.
Divulgação
Luiz Trevizani (esq) e Eder Borges
No Brasil, a palavra reaça é muito associada à direita, como uma herança da Ditadura Militar (1964-1985), mas para os fundadores da banda, o termo está ganhando um novo significado e é “apenas um a apelido, que se dá para reacionários, porque reagimos a tudo que é ruim”, na definição de Borges.
Além de Borges, a banda curitibana é formada pelo músico Luiz Trevisani, de 51 anos, para quem o nome tem “tem tudo a ver”. “Sou um reaça mesmo porque eu reajo a esta roubalheira que está aí. O nome pegou muito bem. A reação das pessoas que estão do lado de cá foi ótima”.
Os dois se conheceram pelas redes sociais, em dezembro do ano passado e “por causa das afinidades musicais e ideológicas” resolveram unir forças para fundar a banda, que tem sido propagada justamente neste meio.
A música foi disponibilizada no Facebook em 24 de fevereiro, onde tem quase 210 mil visualizações. No YouTube, quase 180 mil já viram o clipe. Com agenda cheia neste fim de semana, os dois vão apresentar a música nas manifestações de domingo (15) contra o governo petista em São Paulo.
“Em Curitiba, outra banda vai fazer cover da nossa música na manifestação e também vai tocar em outras manifestações”, diz Borges, orgulhoso.
Veja o vídeo clipe da música Impeachment
Borges diz ainda que a música Impeachment é só o começo e a dupla já tem novas músicas prontas para lançar um CD virtual, batizado de “Pro Seu Governo”, com todas as músicas e vídeo clipes disponibilizados no YouTube. “Em breve” afirma Borges, sem precisar uma data. Mas adianta que uma das faixas se chama “Burrada em Pasadena”, em referência as denúncias de superfaturamento na compra da refinaria nos Estados Unidos,pela Petrobras.
“Vimos que havia um buraco na cena musical brasileira. Há muito tempo não se faz um rock nacional politizado, como se fazia nos anos 70, 80”, diz Borges, se referindo ao movimento brasileiro que protestava contra a ditadura militar. Com a diferença de que, para Borges, “ser reacionário é a essência do rock and roll”.
“Quando se fazia música contra a ditadura, não quer dizer que era música de esquerda porque rock and roll não é ser da situação, não é ser conformado, é reagir. É o ritmo que melhor expressa isso [inconformismo]”, define.
Músico há 15 anos, Borges diz que já fazia trabalhos artísticos sem conotação política. O ativismo começou em meio às eleições do ano passado, quando fundou a Direita Curitiba, grupo formado por “liberais e conservadores que acreditam na liberdade individual, liberdade econômica, família e meritocracia”, segundo definição na página no Facebook. Ele então procurou Trevizani, que já fazia um trabalho musical “politizado” desde dezembro de 2013.
“Um dia eu acordei, em dezembro de 2013, com uma marchinha de carnaval da cabeça tirando sarro do José Sarney. Acordei com um acorde na cabeça, levantei e peguei o violão. Depois resolvi olhar com mais cuidado e achei que valia a pena materializar. Fiz esta marchinha “Cadê o Zé” e o troço deu uma leve bombada”, diz Trevizani, definindo o seu trabalho como “charges musicais”.
Reduto do PSDB
O Paraná foi um dos 11 Estados, além do Distrito Federal, onde Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB, ficou em primeiro lugar no segundo turno das eleições do ano passado. O tucano foi o preferido por 60,99% da população paranaense, contra 39,02% que optaram pela candidata petista.
Borges foi um dos eleitores do tucano, mas diz que foi “por falta de opção”. “São sempre os mesmo partidos e candidatos. Os debates eleitorais sempre foram uma demagogia, uma disputa para ver quem dar mais esmola ao povo. Nós estamos pautando o debate porque agora eles sabem que o brasileiro está mais politizado e não quer mais populismo”, diz.
Para Trevisani, o senador paulista eleito José Serra, também do PSDB, seria o presidente ideal para o Brasil, neste momento. “Se eu pudesse pedir pro Papai Noel, eu gostaria de ver uma gestão do José Serra”, diz.
Impeachment
Para Borges, derrubar a presidente Dilma é apenas o primeiro passo para a convocação de novas eleições.
“Queremos convocação de novas eleições tendo em consideração as evidências de fraudes ocorridas, a incapacidade deste governo em gerir o Estado – seja por incompetência ou por corrupção – e, sobretudo, a ilegalidade do PT”.
Segundo Borges, há quatro razões que embasam o impeachment da presidente. A primeira seria a “subordinação do PT a uma organização internacional criminosa: o Foro de São Paulo”, composta por partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe. Foi fundado na década de 1990 pelo PT e pelo Partido Comunista Cubano.
“Outra questão é o uso do exército do MST [Movimento dos Sem-Teto], uma organização paramilitar que o PT ameaçou colocar nas ruas contra o povo e contra o Brasil”, diz. Ele ainda afirma que a campanha da presidente Dilma foi “mentirosa” , que houve uso da máquina pública para financiar a campanha e fraude nas eleições.
Para Trevizani, a ideia do impeachment está ligada a postura assumida pela presidente. “Esta presidente já mostrou que, no mínimo, não tem competência nenhuma. Ela nunca se sabe de nada. Se ela não sabe, ela não tem competência. Se ela sabe, então ela está mentindo”, afirma Trevizani.
De acordo com o desembargador aposentado Walter Fanganiello Maierovitch, a “incompetência”, porém, não é razão para o impeachment de um presidente. A Constituição prevê a perda de mandato para crimes que atentem contra a “Constituição; o livre exercício dos poderes políticos; a probidade administrativa e a guarda e emprego dos dinheiros público; e a execução das decisões judiciárias”. Além disso, diz “o presidente da República não pode, durante o exercício de suas funções, ser responsabilizado por atos estranhos às mesma”.
“Quando ela foi presidente do Conselho da Petrobras, não estava na Presidência da República. Onde você vai buscar o fundamento?”, questiona o desembargador aposentado.
Nazismo X Esquerda