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O sol brilha forte no interior de Goiás, e o índice ultravioleta é frequentemente classificado como “extremo” –parece não haver lugar pior para uma pessoa com uma doença de pele rara como o xeroderma pigmentoso viver.

Ela é caracterizada por uma extrema sensibilidade ao sol: as células da pele sofrem mutações provocadas pela radiação UV. O acúmulo delas causa manchas, escurecimento, engrossamento da pele e aumenta mais de mil vezes a chance do aparecimento de vários tipos de câncer.

O distrito de Araras fica a cerca de 40 km (por estrada de terra) da cidade de Faina, de 7.000 habitantes. O povoado é recordista mundial na prevalência do xeroderma –uma para cada 30 pessoas. No mundo, a doença afeta uma para cada 250 mil.

O fato de um local concentrar tantos casos se deve ao que o professor titular da USP e especialista no reparo de DNA Carlos Menck chama de “azar dos azares”: o encontro geográfico de duas famílias não correlacionadas, que fundaram o povoado, cada uma carregando uma cópia alterada de um gene.

A doença é recessiva –ou seja, os pais podem carregá-la sem desenvolve-la, passando-a aos filhos. O gene em questão é um dos responsáveis pelo reparo de DNA, constantemente afetado pela radiação solar –o tema rendeu o Prêmio Nobel de Química deste ano.