cauaEm entrevista à Marie Claire, o ator abre o jogo sobre política, drogas, religião e aborto

Prestes a interpretar gêmeos em “Dois Irmãos”, nova minissérie da TV Globo, Cauã Reymond, 36 anos, fala à Marie Claire sobre alguns dos assuntos mais polêmicos. Apesar de receoso sobre a opinião do público em relação às suas, o ator abriu o jogo sobre questões ainda controversas.

Marie Claire Vamos falar sobre suas opiniões políticas, algo que as pessoas não saibam?
Cauã Reymond
Você quer a entrevista que eu nunca dei?

CR Será que você vai conseguir? Venho de uma família que não era politizada, nunca teve tempo para refletir, estava procurando sobreviver. Hoje, acompanho, mas sou medroso de dizer o que penso no Brasil. Tenho a sensação de que o público não recebe bem nossas opiniões. O que posso dizer é que fico feliz em ver as pessoas sendo presas, mas triste que elas sejam soltas logo. Gosto de ver medalhões da Fifa presos. Não consigo entender por que continuam roubando se não terão tempo de gastar o dinheiro. Isso faz parte do raciocínio do tipo de pessoa que quero me tornar.

MC Como assim?
CR
Penso na qualidade do tempo com minha filha e os outros filhos que quero ter. Adoro trabalhar, conquistei tudo pelo meu suor, sem a ajuda de ninguém. Por isso, me pergunto quando a ambição vira ganância. Quando vejo ganância, vejo ignorância. São pessoas que usaram a inteligência para se afundar num poço.

MC Você é muito rico?
CR
Sou um cara bem-sucedido. Mas prezo a simplicidade. Gosto de viver de forma saudável e confortável, sem exibicionismo.

MC É vaidoso?
CR
Sim, com a saúde. Como bem, me exercito, passo protetor solar.

MC E ciumento?
CR
Já fui mais. Mas sou ainda. Acho bom um pouco de ciúme, inclusive para o erotismo do casal.

MC Faz terapia?
CR
Comecei adolescente e fiz terapia reichiana [linha fundada por Wilhelm Reich na década de 1940] até os 20 e poucos anos. Depois mudei para a análise. A terapia reichiana me ajudou a expor o que sentia. Hoje, a análise é um lugar de diálogo, onde me sinto seguro. Falamos desde questões que têm me preocupado, como a saúde de familiares, até papos existencialistas.

MC Qual é seu maior medo?
CR
[suspira e demora para responder] Foi mudando. Primeiro, era ficar pobre. Depois, virou a solidão. Dos 20 aos 30 anos, trabalhei muito. Se tivesse um baile de debutante que pagasse pouco, ia fazer. Aos 30, quando tinha conquistado muita coisa, deprimi. Não quero dramatizar, mas sumiu o brilho que sempre tive com a vida. Um vazio que não sabia como preencher.

MC Sentia falta de um objetivo?
CR
Exatamente. Não sabia direito com o que sonhar. Hoje vejo meus objetivos com mais pluralidade. Penso no que vão me proporcionar. Não gosto de ficar longe da minha filha muito tempo, por exemplo.

MC Você tem religião?
CR
Rezo todos os dias. Sou católico de batismo. Vou à igreja em busca de silêncio. [suspira] Vamos lá, vou falar: tanto politicamente quanto religiosamente estamos indo para um lugar de pouco respeito às diferenças. Acho isso extremamente perigoso. Não entendo uma religião que não respeita outra.

MC Já usou algum tipo de droga?
CR
Já fumei maconha.

MC É a favor da legalização?
CR
Olha, esse assunto é complicado. Fico receoso de uma voz ignorante no tema como a minha tomar uma grande dimensão. Talvez o Brasil não esteja preparado, mas gosto do que aconteceu no Uruguai. Vejo a possibilidade da legalização da maconha – e não de outras drogas.

MC É a favor da legalização do aborto?
CR
Sim. Não de qualquer forma, cada caso é um caso. Assim como sou a favor do estudo da legalização da eutanásia. Se uma pessoa não quer estar aqui, deve ter o direito de fazer.