“Não há discussão a esse respeito”, completou o ministro, ao lado dos colegas Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Esther Dweck (Gestão e Inovações nos Serviços Públicos), que também participaram do encontro com o presidente. Mais cedo, Lula declarou que responsabilidade fiscal é um compromisso do Executivo.
“A determinação é que o arcabouço seja preservado a todo custo, o que significa dizer que, no relatório que vai ser apresentado em 22 de julho, que a Receita [Federal] está terminando de fazer a compilação do semestre, pode significar algum contingenciamento e algum bloqueio, que serão suficientes para que o arcabouço seja cumprido. Isso está definido”, explicou Haddad.
O ministro afirmou que o valor a ser bloqueado é fruto de um “pente-fino” feito pelo Executivo em programas sociais e no orçamento dos ministérios. O corte será para o ano que vem, mas é possível que parte do contingenciamento seja adiantada para 2024. “Algumas dessas medidas do orçamento de 2025 podem ser antecipadas, à luz do que a Receita Federal, o Tesouro Nacional e a Secretaria de Orçamento apresentarem como necessidade de bloqueio em 22 de julho”, destacou.
Os R$ 29,5 bilhões que serão bloqueados vêm sendo calculados desde março e serão suficientes para que o Executivo cumpra o arcabouço fiscal neste ano, como informou o ministro da Fazenda. O valor pode ser ainda maior — a pasta espera concluir os cálculos nos próximos dias.
“Vamos ter a ordem de grandeza disso nos próximos dias, assim que a Receita finalizar seu trabalho, mas já estamos operacionalizando aquilo que será, provavelmente, demanda dos ministérios de despesas obrigatórias, para zerar essa conta e cumprir o arcabouço”, completou.
Segundo Haddad, desde março deste ano, os ministérios, em parceria com as pastas de Planejamento e a Casa Civil, têm analisado as despesas obrigatórias. “Já identicamos, e o presidente autorizou levar à frente, R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados forem comunicados”, afirmou o ministro.
Os valores já calculados foram reunidos junto às equipes dos ministérios atingidos. “Não é arbitrário”, garantiu Haddad. “São recursos levantados linha a linha no orçamento, um trabalho criterioso, com base em cadastros e leis aprovadas”, acrescentou.
Em meio às discussões sobre a revisão de gastos públicos e a alta do dólar, Lula convocou a equipe econômica do governo para reunião na noite desta quarta (3). Ao longo do dia, o presidente chamou Haddad outras duas vezes para tratar do cenário fiscal do país.
O primeiro encontro ocorreu pela manhã, no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, e não estava nas agendas de Lula e Haddad. “É um absurdo. Obviamente, a subida do dólar me preocupa, mas é uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real. Tenho conversado com as pessoas sobre o que vamos fazer. Estou voltando quarta-feira e teremos essa reunião. Não é normal o que está acontecendo”, afirmou o presidente em entrevista a uma rádio de Salvador (BA) na terça-feira (2).
O dólar voltou a subir nesta terça-feira, chegou a bater nos R$ 5,70, mas terminou o dia vendido a R$ 5,66.
A moeda norte-americana chegou a R$ 5,70 nessa terça (2) e fechou em R$ 5,56 nesta quarta (3). O movimento do dólar é consequência de falas do petista. Recentemente, Lula criticou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a política monetária da instituição. O presidente sugeriu que Campos Neto tem um viés político. Além disso, o petista mencionou que o preço do dólar tem subido devido a processos de especulação financeira e sugeriu que o Banco Central investigasse essa questão.
A disparada do dólar, que começou em junho, se mantém nos primeiros dias de julho. A moeda bateu R$ 5,70 na terça-feira (2), após ter fechado, no dia anterior, a R$ 5,64, maior valor em dois anos e meio. Com isso, a alta acumulada chega a 6,43% em junho e 15,14% no primeiro semestre, o maior salto neste ano entre os países emergentes e também a mais alta variação ante o real desde 2020.
RK