A possibilidade de uma vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais nos EUA, em novembro, já mobiliza o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Longe do foco, o Planalto traça cenários, busca alternativas e se prepara para ter de conviver, nos próximos anos, com o republicano na liderança da maior superpotência.

Lula já declarou que torce por uma vitória de Joe Biden. Ainda que a relação entre os dois chefes de Estado não tenha decolado, como parte da diplomacia brasileira esperava, ela foi considerada como “correta”.

Fontes no Palácio do Planalto indicaram ao UOL que, com a posse eventual de Trump, não caberá ao Brasil modificar sua política externa. Mas haverá um acompanhamento intenso sobre todos os passos que o Executivo americano tomar, sempre na expectativa de se preparar para eventuais dificuldades ou turbulências.

Pessoas próximas ao presidente Lula insistem em relatar como ele conseguiu estabelecer uma relação pragmática com o republicano George W. Bush, apesar de discordar profundamente sobre vários dos pontos da agenda internacional do americano, da guerra no Iraque e de seu posicionamento sobre Hugo Chávez.

Desta vez, porém, há uma diferença fundamental: o novo grupo faz parte de uma rede mundial que vem, na visão de políticos europeus e latino-americanos, questionando as próprias regras internacionais, os acordos e o Estado de Direito. Aliados de Trump, como Steve Bannon, têm usado programas nas redes sociais para atacar Lula, ciente de que se trata de uma peça chave entre os movimentos progressistas no mundo.

Enfraquecer o presidente brasileiro no cenário internacional, portanto, pode ser um cálculo deliberado de um eventual governo Trump.

COP30 esvaziada

Uma das preocupações do governo Lula é um possível esvaziamento da COP30, que ocorre em Belém em 2025. A Conferência do Clima da ONU seria um dos momentos de maior prestígio da política externa brasileira, mais de 30 anos depois da Eco 1992 no Rio de Janeiro.

Mas uma eventual decisão de Trump de, uma vez mais, sair do Acordo de Paris poderia minar de maneira dramática os esforços da comunidade internacional em relação ao clima e esvaziar a COP30 no país.

Não passou sem ser notado o fato de que a extrema direita anunciou a realização de seu encontro anual no Brasil — na CPAC — em Manaus em 2025. O evento promete se transformar numa provocação à agenda ambiental de Lula, eventualmente contando com presidentes como Javier Milei e até representantes de Trump em território brasileiro.

Fomento da instabilidade na América Latina

Outro aspecto que mobiliza o governo brasileiro é a eventual atuação de Trump para fomentar grupos de extrema direita pela América Latina, ampliando o que é considerado hoje já como um cenário de fragilidade e instabilidade.

Isso envolve tanto a Bolívia como países como Peru e Equador. Há ainda a preocupação em relação ao futuro das relações com o governo de Nicolas Maduro que, em 2023, chegou a um acordo de princípios com Joe Biden.

O temor da diplomacia brasileira é de que a Venezuela volte a ser um terreno de uma disputa intensa entre interesses russos, chineses e americanos. O impacto, porém, seria sentido acima de tudo no Brasil e Colômbia, com milhões de refugiados e imigrantes e o risco de um conflito armado nas fronteiras do país.