Para diretor-geral do Datafolha, divisão apresentada nas eleições persiste entre os brasileiros

 

Para a maioria dos entrevistados pelo Datafolha, Dilma tem alguma responsabilidade pelo que acontece na Petrobras – Michel Filho em 19/10/2014 / O Globo

 

SÃO PAULO — País segue tão dividido quanto estava ao final das eleições. Esta é a avaliação de Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, sobre o resultado da pesquisa feita pelo instituto que mostrou que 7 em cada 10 brasileiros responsabilizam a presidente Dilma Rousseff pela corrupção na Petrobras. Segundo ele, os que saíram insatisfeitos da eleição continuam insatisfeitos.

 

O levantamento apontou que 85% dos respondentes estão seguros de que houve corrupção na estatal e desses, 41% acham que os grandes beneficiários do esquema foram os partidos políticos, e não as empreiteiras ou os funcionários da Petrobras. Além de apontarem a responsabilidade de Dilma no caso Petrolão, 20% dos pesquisados dizem que o governo dela é o mais corrupto desde os anos Sarney, perdendo em corrupção apenas para o governo Collor (29%).

 

Ainda assim, os brasileiros não reduziram a avaliação positiva do governo, que segue em 42%, mesmo índice obtido pela petista no fim do segundo turno. A rejeição ao governo aumentou apenas timidamente, passando de 20% para 24%.

 

Parte da explicação para a estabilidade da avaliação do governo pode estar no fato de que 46% dos brasileiros admitem que, desde a volta à democracia, nenhum governo investigou tanto a corrupção quanto a gestão Dilma. Outros 40% acham que nunca houve tanta punição aos corruptos quanto hoje, índice provavelmente impulsionado pela prisão de grandes executivos de empreiteiras pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Como resultado, a preocupação com corrupção caiu 5% em relação a junho desse ano e é considerado o principal problema do país por apenas 9% dos brasileiros.

 

Se as notícias de corrupção e as reiteradas manifestações da oposição, que chega a pedir o impeachment da presidente nas ruas, não foram capazes de piorar a aprovação do governo, por outro lado, o anúncio de mudanças na equipe e nos rumos econômicos do país também não aumentaram a confiança da população em relação ao governo e à economia.

 

– A maioria dos brasileiros está pessimista. Acredita que a inflação vai aumentar, o poder de compra dos salários diminuirá e o desemprego subirá no ano que vem – afirmou Paulino, que prosseguiu: – Como a piora não foi sentida pela maioria dos brasileiros concretamente ainda, esse pessimismo ainda não empurrou a avaliação do governo para baixo.

 

De maneira geral, o governo não tem motivos para ler positivamente o resultado da pesquisa. Os brasileiros nunca estiveram tão céticos quanto ao êxito de um novo governo: apenas metade dos respondentes crê que será um bom governo. Desde FH, o percentual dos que têm expectativa positiva sobre a nova gestão nunca foi tão baixo. A pesquisa Datafolha ouviu 2.896 pessoas em todo o Brasil entre os dias 2 e 3 de dezembro. A margem de erro da pesquisa é de 2%.