Protecionismo argentino traz prejuízo de US$ 30 milhões à indústria calçadista

Em mais uma das crises no relacionamento comercial entre Brasil e Argentina, agora é a vez daindústria calçadista nacional sofrer os impactos da política externa dos vizinhos latino-americanos. Os fabricantes dos cerca de 742 mil pares de calçados encomendados à indústria nacional estão encontrando dificuldades para colocar o produto nas lojas do país vizinho. Desde agosto passado, nem 20% das encomendas chegaram efetivamente à Argentina. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) estima um prejuízo de US$ 30 milhões com a medida.

O atraso na entrega das encomendas causa um efeito cascata, uma vez que, com o bloqueio argentino, as novas encomendas para o Natal não vieram, gerando um segundo prejuízo para os fabricantes. “Agora teremos o terceiro prejuízo.

Neste mês começariam as encomendas para a temporada de outono e inverno. Esses sapatos já estariam em produção agora”, diz Heitor Klein, presidente da Abicalçados. “Não estamos perdendo só um negócio, entende?”

STRINGER/CHILE/REUTERS/Newscom

Presidente argentina, Cristina Kirchner

Klein não detalha os números, mas diz que há um volume razoável de funcionários em férias coletivas e algumas demissões já ocorreram. “A Argentina é o segundo maior mercado para a indústria brasileira de calçados. Naturalmente as empresas acabam cortando na carne”, afirma.

Mesmo com o prognóstico desfavorável da associação patronal, João Batista Xavier da Silva, presidente Federação dos Trabalhadores Indústria de Calçados do Rio Grande do Sul – Estado que divide com São Paulo a maior parte da produção do País – se mantém otimista e ressalta que apenas 30% da produção vai para o fora do Brasil.

“Não existe essa dependência gigantesca. As empresas que estão demitindo, estão fazendo isso por má gestão”, critica Silva. “Não dá para dizer que não há problema, só que o debate não está mais em nossas mãos. Também falta seriedade de alguns empresários.”

Na década de 1990, o número de empregados no setor passava de um milhão. Hoje, são 245 mil trabalhadores, segundo a federação.

Só em Novo Hamburgo, principal exportador para a Argentina, o total de empregados no setor despencou de 35 mil em 1995 para 5 mil em 2014. “A grande questão agora vai ser como desovar a produção”, pondera o sindicalista.